sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Vivendo sem preconceitos

Como é bom não ter preconceitos e poder ser humano no sentido pleno do termo.

Como é bom saber que o homem não é definido por vestimenta, maquiagem, sexualidade, cor ou quilogramas.

É tão belo poder transitar entre todos as tribos, todos os grupos, todas as bandas, e aproveitar tudo de bom que podem oferecer.

É incrível trocar experiências, aprender com o homem e ensinar a ele.

Sei que ainda sou um poço de contradições e preconceitos, mas tenho noção disso e me empenho a excluir todos os sentimentos infrutíferos que possuo.

É lindo viver sem preconceitos. Todos deveriam experimentar.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Diversidade sexual nas escolas

A homossexualidade é quase sempre ignorada pelos livros didáticos e nas discussões em salas de aula. Essa foi a constatação da pesquisa Qual a Diversidade Sexual dos Livros Didáticos Brasileiros?, coordenada pela professora Débora Diniz, da Universidade de Brasília (UnB). Falta de preparo do corpo docente é um dos principais empecilhos a uma abordagem significativa sobre diversidade sexual.

Segundo o estudo, agressões verbais e físicas e isolamento social fazem parte do cotidiano de alunos homossexuais. De acordo com a pesquisa de Débora Diniz, a omissão da homossexualidade nos livros didáticos e a reiteração de um modelo "heteropaternalista" como único e correto representam uma homofobia velada, transmitida aos alunos durante toda a vida escolar.

Uma reportagem de Fernando Martins, da MixBrasil, revela a omissão da equipe pedagógica em situações de discriminação por orientação sexual:

Mário Carneiro, que acabou de completar o ensino médio no Colégio Equipe, disse que apesar de haver alunos gays e lésbicas na escola, nunca a sexualidade foi abordada pelos professores. É o mesmo caso do Colégio Paulicéia, onde, segundo a estudante Aretha Larangeira, um colega sofreu ameaças de outros alunos depois de ter levado seu namorado à escola. "Ele era assumidamente homossexual. Se não bastassem as piadas idiotas que ouvia, a coordenação não tomou parte nesse episódio."

Alguns coordenadores afirmam que não tratam da questão por considerarem a orientação sexual um dado natural, não um problema. No entanto, essa atitude pode de fato estar escondendo o preconceito e o medo de criar constrangimentos. "Não é possível colocar heterossexualidade e homossexualidade como a mesma coisa. Um casal gay não vai ser tratado como um casal hétero nas escolas", afirma a psicóloga Cátia Oliveira da Cruz. "Isso é escamotear o problema."

No colégio Oswald de Andrade, um aluno foi orientado a diminuir seus trejeitos efeminados porque isso fazia com que seus colegas rissem dele. "E se não der para ele ser menos efeminado? Por que não ensinam os outros alunos a lidar com a diferença?", pergunta Cátia. A psicóloga critica a tendência dos coordenadores de encaminharem os alunos gays para a terapia. "Será que todos os casos precisam de intervenção psicoterápica ou é uma forma de empurrar o 'problema' para outro lugar?"

domingo, 18 de janeiro de 2009

Que relativismo cultural é esse?

O multiculturalismo é um termo cuja aplicação nunca foi vista com tanta clareza quanto nos dias atuais. Ele pode ser entendido como a "mistura de culturas" [e nesse sentido o Brasil é um dos países mais multiculturais do globo]; está sempre associado ao relativismo cultural [como um atalho para a compreensão dos variados costumes dos diversos povos do planeta] e é intensificado pelo processo de globalização.

É conveniente explicitar aqui que o fato de compreender o outro, a prática da alteridade em si, não equivale a aceitar ou corroborar determinada prática. Por exemplo: em muitas nações do Oriente Médio, a mulher é preterida em relação ao homem em direitos. Na Arábia Saudita, elas nem podem conduzir veículos. Uma pesquisa sobre os costumes locais - uma tentativa de transformar o exótico da distinção por gênero dos sauditas em algo familiar - fornecerá insumos para a compreensão dessa cultura, do porquê de ser assim. Não significa, porém, que fortaleço esses hábitos. Minha opinião pessoal é de repúdio à qualquer discriminação, seja étnica, sexual, religiosa etc. Como todo jornalista, creio que os direitos humanos - compilados em um documento oficial da ONU em 1948 - devam ser promovidos e preservados.

Então para quê serve esse papo de cultura pra lá, cultura pra cá, visão de um e visão de outro? Para desmitificarmos preconceitos e compreendermos como a coisa funciona de fato. Todos concordam que um relato de um jornalista que conviveu por três meses com
índios Fulni-ô, em uma aldeia no interior de Pernambuco, é potencialmente mais rico, detalhista e próximo da realidade da tribo do que de um pesquisador que recolhe apenas dados em bytes através de seu computador em São Paulo. Com a alteridade aprendemos a "sair da nossa garrafa" (nas palavras de um professor meu) e ver que o mundo é mais do que as nossas impressões sobre ele.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

"Meu filho me pediu uma boneca"

(O texto que segue é uma adaptação do homônimo do blog Dias assim, tão perto de mim... da pesquisadora Denise Batista)

Há uns dois meses meu filho de sete anos me pediu uma boneca. Dividida entre a intelectualidade dos estudos acadêmicos e os valores que a nossa “reaça” sociedade demonstra nas questões de gênero, dei a boneca, "bancando" um barulho enorme por parte da família, colegas de trabalho, ex-marido e afins. Sem contar com a censura silenciosa de alguns, revelada por olhares ou gestos. É claro que recebi apoio e solidariedade. Mas o oposto foi muito mais pesado. Confesso que compreendo. Por parte de alguns mais, por parte de outros, menos. Mas respeito.

O meu desconforto foi muito mais em relação a mim mesma do que às posturas percebidas, públicas ou anônimas, verdadeiras ou educadas. Foi duro encarar minha insegurança em assumir DE FATO uma posição em relação às minorias sociais. Foi esta imagem, refletida no espelho das relações familiares que meu filho e sua boneca me obrigaram a olhar. Tive que sustentar uma postura prática que há muito considerava como minha. Em teoria. Só descobri isto quando foi com um filho meu.

Aqui faço um parêntese: enquanto eu me torcia e retorcia constrangida, meu filho não estava nem aí para os olhares e comentários sobre meninos e bonecas e exibia orgulhoso a sua gorducha bailarina, penteando os seus cabelos, trocando as suas roupas, mudando o seu penteado, entre extasiado e maravilhado com as possibilidades daquele "ser" de vinte e poucos centímetros e puro látex, para onde ia: no meu trabalho, no Mestrado, pelas ruas, na casa do avô, do pai... Lugares públicos ou privados para este menino não dizam nada! A cada um que afirmava que boneca não era coisa de "macho", ele perguntava candidamente: por quê?

A boneca para o meu filho foi um Lego às avessas: montava, desmontava, descobria as calcinhas ("olha, mamãe a calcinha dela!") maquiava, lavava, alimentava... Confesso: quando ninguém estava olhando, brincava junto com ele e me divertia à beça, me sentindo criança de novo, relembrando o prazer de simplesmente brincar!

Torturava-me a possibilidade entre assumir uma atitude "firme" com meu filho para não ser julgada e execrada, ou seja, aceita pelos meus pares, ou ainda pior, sucumbir num mar de disfarces, meias-mentiras, mentiras inteiras, hipocrisias...

Optei pela lealdade aos meus princípios. É neles que está o amor incondicional ao ser humano e o respeito às diferenças, que só se consolidam se você tiver um compromisso real com a verdade. A sua verdade. Possibilitando àquilo que é estranho ser familiar. Esta postura é uma daquelas em que a gente bota a cara, sabe, e leva muita, mas muita porrada.

Meu filho é um ser humano. Pode ser diferente ou não no sentido convencional das opções sexuais. Mas isto não é importante. É apenas uma categoria de análise. Logo, não posso abrir mão dos meus princípios, pois eles constituem a minha identidade. Mantenho-me fiel a eles. Bem, seja o que for que representa a boneca para o meu filho, o fato é que ele está feliz da vida com o seu brinquedo novo e está me pedindo outra...

O fundamental é o amor que sinto por este mini-humano e a admiração profunda que sinto ao vê-lo cuidar tão amorosamente do irmão menor, pela sensibilidade em perceber só de olhar meu rosto, o meu estado de ânimo, mesmo se tento disfarçar (e me alertar!), pela preocupação com o coletivo, demonstrada nas pequenas atitudes cotidianas, como não jogar papel de bala no chão ou recolher as garrafas pets que meu pai insiste em atirar no seu quintal; em demonstrar bom caráter ao não contar mentiras muito punks (aquelas que fere sentimentos), pela comoção sincera quando vê um desvalido, pela alegria com que admira a beleza de uma florzinha safada no jardim da minha mãe e colhê-la e colocar num copo me oferecendo; ao adorar incensos e gostar de livros, não com a devoção que eu gostaria, mas ok, e ao profundo amor que devota à sua Bolinha. Me emociono ao vê-lo dormir e me assusto com a rapidez com que está tendo que amadurecer, pois a vida não tem sido fácil para ele.

Sendo assim, é muito fácil ser mãe deste ser humano de sete anos que me chama de mamãe. E se ele for gay, lésbica, hetero, bi, drag, transformista ou desejar uma cirurgia de mudança de sexo, tudo bem. Mesmo. O importante é que seja qual for o caminho escolhido, que seja pautado pelos princípios humanitários. Aqueles que fazem a gente ser decente e não nos torna indiferentes às misérias do mundo. E de quebra que ame o seu próximo, respeitando a dignidade alheia. E que sonhe sempre com um mundo melhor, como antídoto para afastar o cinismo que ronda o cotidiano da perversidade.

Antônio, eu te amo meu filho. Por tudo. Mas principalmente por me fazer olhar, de forma corajosa, para dentro de mim mesma.

Com amor,

Mamãe.